terça-feira, 8 de junho de 2010

Perdão

Querido, perdoe-me. Perdoe-me pelos fios de cabelos suicidas em teu quarto; pelos omeletes que te fiz fazer; pelas noites dormidas de mal jeito porque estava, ainda, na sua casa. Pelas minhas roupas que tirei de teu armário; pelo atraso do caminhão; pelo meu cheiro que cisma em ficar em teu travesseiro - e em ti, já que nossos corpos estavam mais entranhados do que o possível para que o cheiro no travesseiro fosse maior.

Querido, perdoe-me. Perdoe-me pelas fotos não tiradas e pelo sumiço daquelas poucas reveladas, que por acaso caíram naquela panela que eu fervia a água, esperando o caminhão. Havia momentos em que eu necessitava caminhar com minhas próprias pernas e sem ninguém por trás, para que eu pudesse ser quem eu era - até para voltar para você como a menina que te encantou. Mas tinham momentos em que eu queria era queimar todas as minhas lembranças de você e deixa-lo sufocando na fumaça.

Querido, perdoe-me. Perdoe-me por sempre reclamar que você exigia muito de mim. Mas eu cansei, mesmo. Agora, cá estou e nem o seu abraço apertado vai chegar aonde estou agora. Estou aqui e estou bem, fiz porque quis. Nada vai adiantar ver seus olhos vermelhos e encharcados, se já não me sinto em paz com tem amor como antes. Hasteie a bandeira branca, está na hora.

Querido, perdoe-me. Perdoe-me por não conseguir te perdoar.

Um comentário:

Rafael Spínola disse...

"hasteie a bandeira branca, está na hora" muito bonito!