quinta-feira, 14 de abril de 2011

A melhor história pode não ser nossa

A primeira coisa que ele fazia quando chegava em casa era cozinhar um milho, fechar as cortinas e comer no escuro. Gostava quando seu telefone tocava e espera alguns toques antes de atender. Precisava tomar um banho antes de dormir. Tinha guardado uma coleção de moedas antigas que ficava em uma caixa com os sapatos. Gostava mais da mãe do que do pai, mais de doce do que sal, mais de sorte do que Deus.
Quinta feira saiu do prédio e viu uma confusão na esquina. Quando chegou havia uma senhora desesperada, fazendo perguntas que ele não conseguia escutar para um médico. Aproximou-se da porta do hospital e escutou a palavra “filho” em meio aos gritos da mulher. Sentiu um desespero momentâneo, a emoção da senhora passou para ele por alguns segundos. Como se aquela mulher o chacoalhasse e lhe desse um leve choque. Foi um momento fora da sua vida, como se pudesse viver a vida de outro, mas só um sentimento, sem associações, sem contexto, só um sentimento, puro e simples. E de outro. Saiu um menino do hospital numa maca, entrou na ambulância a mãe entrou atrás e a ambulância seguiu.
Ele foi comprar a peça da pia, que novamente tinha quebrado, na loja de ferragens na esquina, carregando aquele sentimento até onde pôde lembrar-se dele.

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